Teofania Cósmica

Quando pensamos acerca do Cosmos, normalmente usamos dois tipos de critérios: O Cosmos é transcendental ou físico. Ou seja, as maravilhas do Universo podem ser analisadas pela mensuração científica ou pelo estontear do pensamento místico.

Através da Astrofísica, nos deslumbramos com o leque cósmico das estrelas, planetas, nebulosas, galáxias...

Percebemos nossa pequenez quanto à magnitude do Todo. Mas ao mesmo tempo em que somos “insignificantes” perante toda essa extraordinária grandeza, somos formados de poeira estelar tanto quanto um grão de gelo dos anéis de Saturno, dos átomos de enxofre da atmosfera de Vênus, dos fótons liberados pelo Sol e até mesmo pelas estrelas mais distantes do Universo. Porque seríamos pequenos se realmente somos um espelho do todo?

A vida está latente em todo o Universo. Moléculas orgânicas são encontradas abundantemente nos planetas, sistemas “solares”, galáxias. A vida sempre permanece, esperando por desabrochar.

Mas na Terra, ela encontrou um útero sadio para que ela pudesse florescer. Aqui as moléculas orgânicas advindas de alguma parte do Cosmos (talvez na cauda de um cometa...) pode desenvolver-se de simples organismos unicelulares em toda a gama de seres vivos.

Aqui a vida transformou-se numa dança mística de células, ávidas em reproduzir e evoluir. Nossa flora e fauna é o resultado deste baile cósmico, embalado pela música da luz solar. É graças a Ele que pudemos existir. O Sol é o grande maestro da vida e a Terra a Dançarina que lindamente se rende aos encantos dos acordes solares. Ela ainda dança, esperando os aplausos de todos. E, inquestionavelmente, aplaudimos.

Aplaudimos pela miraculosa existência da vida, da maestria do Universo em ser tão perfeito e meticuloso ao se desdobrar do infinito a um quark. Aplaudimos nossa Deusa bailar elipticamente nos braços da Via Láctea, de maneira tão graciosa e singela diante da beleza de sua grande família, envergonhando os planetas secos, frios demais ou quentes demais.

Aplaudimos nossa incapacidade de reverenciar este ato tão lindo, reproduzindo essa dança nas células de nosso corpo, quando nossas mitocôndrias “respiram”, nossos lisossomos digerem, nossos cromossomos reproduzem..., sentindo que realmente somos tão divinos quanto quaisquer outros seres do Todo.

Nossa divindade é intrínseca ao Cosmos! E aqui não coloco a espiritualidade. Fisicamente tudo é divino! Como podemos não reconhecer a grandiosidade de um DNA, a beleza do sexo, a maravilha da maternidade, a suntuosidade da fotossíntese.

Porque restringir o divino ao espírito, e não o incluirmos à matéria? Nossa restrição de se maravilhar perante o milagre do Universo nos cega numa infantilidade de deificar algo que não compreendemos. Os deuses, são deuses, porque assim os consideramos. Nossos deuses são, acima de tudo, o Ar que respiramos, a luz que nos aquece e alimenta, a água que nos refresca, a terra que nos embarca.

Vênus é nossa libido, Júpiter as descargas elétricas, Hélios é o Sol, Diana a Lua, Marte se torna nossa força, Mercúrio nossa língua, Plutão os vermes de nosso cadáver, Netuno o Mar, Pan a fauna, Flora a flora...

E tudo isso é Lindo! Todos os deuses no corpo Dela, no Cosmos, cheio de vida e divindade!

Aí sim, quando encararmos a matéria como divina é que poderemos começar a pensar no transcendental. Como posso reverenciar uma deidade onisciente, onipresente e onipotente? (tirando a Mitra papal e colocando a Tiara da Deusa..rs) Seria eu pagão?

Seria eu pagão se fosse tão ignorante religiosamente de negar a divindade do Cosmos simplesmente por existir de forma tão perfeita?

Seria a Deusa algo além da Terra ou da Vida Universal? Ela deve ser algo mais abrangente? Ela deve ser uma versão feminina do Deus Patriarcal?

Porque não a vermos na beleza de um céu Noturno, identificando seus olhos nas estrelas, seus cabelos como a Via Láctea, seu Útero como a Terra e seu Calor como o Sol?

Seria tão herético?

Não acredito. Para mim a Deusa é algo muito mais física que astral. Muito mais matéria que espiritual. Ela é o Todo em Tudo. E este é um pensamento bem reconfortante...

Esta é a simplicidade linda da Vida, parafraseando Caetano. Nesta simplicidade está incluso todo o potencial de pararmos de sermos tão “lunáticos” de viver somente o amanhã, sem nos maravilhar com o hoje, sem viver intensamente cada minuto de nossa existência. Se acreditamos em algo além da matéria, ótimo! Mas não podemos nos agarrar somente ao espírito em detrimento a vida! Para que sonharmos com a plenitude do pós-morte, se podemos ter a certeira felicidade no presente?

Pensemos que somos poeira cósmica e sempre seremos! No corpo Daquela que é...